Quando olho para a história da minha família vejo duas marcas muito fortes: música e vontade de construir. Se tem uma coisa que gostamos é de botar a mão na massa quando o assunto é reforma de móveis, casa ou qualquer outra coisa. Isso vem de longe.
Minha avó Marta, mãe de mamãe, conta que quando era recém-casada ela e meu avô Ângelo batalharam duro para conquistar suas coisas, principalmente a casa, que foi construída por ele mesmo com ajuda de um pedreiro. No correr dos anos, as reformas eram feitas por ele e - eu acho - ele tinha saracutico (palavra usada por meu marido para definir aqueles momentos em que me dá a louca e eu começo meus projetos de reforma aqui em casa). Cada vez que tinha uma ideia nova (construir um quarto, mudar a cozinha, desfazer o quarto construído) ele mudava a porta do banheiro de lugar. Pelas minhas contas foram três vezes. Também construiu boa parte da casa da minha tia. Ele foi, definitivamente, um velhinho porreta. Mesmo com a saúde debilitada, no final da vida não parava quieto. Não foi uma nem duas vezes que liguei para saber como ele estava (morávamos bem longe) e a vó falava: - ah, hoje o vô não está bem, não. - O que aconteceu, vó? E a resposta era algo do gênero: - Ele subiu no telhado para arrumar uma goteira, ou - Ele trocou os azulejos da cozinha, ou - Ele mudou o armário de lugar. Era sempre assim, "aprontava" num dia e passava três dias de cama, pra depois aprontar de novo!!!
O primeiro carro também teve uma história fantástica. Vovó diz que ele conseguiu um dinheirinho no trabalho, que não era suficiente para comprar um carro e deveria ser usado na construção. Depois de umas horinhas fora de casa, ele chega com dois baldes cheios de peças usadas de automóveis (ele era funileiro com um quê de mecânico) e anuncia com a voz grave:
- Marrrta, aqui está o nosso carro! Depois de ficar brava na hora, a vovó embarcou na doidera e eles fizeram mesmo o carro, com um monte de partes de outros carros! Ah, a legislação de trânsito não proibía carros mutantes naquela época - era muito legal a brasília que ele transformou numa espécie de pick-up, tempos depois.
Do lado do meu pai não é diferente. O primeiro marido da minha avó paterna era extremamente habilidoso com a madeira. Papai diz que ele inventava muitas coisas e fazia móveis primorosos. E recentemente descobri que a pequena estante da sala da minha mãe que eu cobiço sem dó nem piedade foi obra dele. Os irmãos mais velhos do meu pai puxaram essa habilidade toda. Meu tio mais velho, Viswaldo, faz o que você imaginar, acho que ele só não consegue construir um avião. Construiu várias partes da sua casa antiga e na casa atual já fez inúmeras benfeitorias, além de ser muito prendado com madeira. Rubens, seu filho mais velho está, nas horas de "folga", construindo um espaço gourmet, chique, não é? O outro tio, Gunars (viu quanta personalidade nesses nomes?), trabalhou por bastante tempo fazendo estojos para instrumentos musicais, um trabalho artesanal e que exige muito capricho. Papai diz que quando o tio era mais novo e morava em Telêmaco Borba fez os armários de cozinha e ficaram muito bons.
O pai de papai tinha mais talento para a música, tocava violino, violão e instrumentos de percussão, além de afinar pianos - mas não deixava de lado as oportunidades de inventar coisas. Papai também é dado a reformas e invenções. Quando eu era nova nós nos mudamos várias vezes e os móveis tinham que se adaptar às medidas novas de cada casa. Eu acho que ele adorava quando o quarto era menor que o anterior e podia fazer os experimentos dele - como mamãe poderia protestar nesses casos, não é? Vou te contar que ainda hoje tem parte de uma cama de quando ele casou transformada em arquivo no escritório.
Nossos planos são de montar uma marcenaria caseira para colocar em prática nossos projetos nas horas livres. Temos algumas ferramentas mas falta bastante coisa. Está em primeiro lugar na nossa lista fazer um rack para minha sala e fazer uma estante para a área de serviço deles. Enquanto a gente enrrola e não faz esses móveis, meu irmão fez uma estante para ele. Ele tem vários projetinhos legais e fáceis, mas agora ele está lembrando de fotografar, o que é bom para eu mostrar e, quem sabe, incentivar alguém a também colocar a mão na massa.
Meu irmão - ele se chama André - é historiador, músico e nas horas livres faz instrumentos típicos dos países do leste europeu ou constrói alguma coisa. Pena que ele não é muito prendado para tirar fotos, mas a gente perdoa!!!
Ao pesquisar o preço de estantes de madeira maciça (ele não aprecia móveis de mdf) viu que o modelo que queria ter custaria uns R$800,00, então resolveu comprar madeira (tábuas de pinnus), cola e parafusos e fazer ele mesmo. Seguem as fotos:
O processo é simples: calcule a altura em que quer as
prateleiras, corte sarrafos da mesma largura da tábua que será a lateral
de estante, cole e parafuse os sarrafos nas duas laterais e depois
encaixe as prateleiras.
Não pode deixar de lixar para ficar com um bom acabamento e selar ou envernizar a madeira para garantir a durabilidade. Ele gosta desse efeito de madeira natural, mas você pode pintar, se quiser.
Ficou exatamente do tamanho que ele precisava e com o aspecto rústico que ele aprecia. Se você gosta mais da cara da riqueza, é só acrescentar na beirada de cada prateleira uma madeira mais larga de acabamento para dar o aspecto de madeira bem grossa e pintar da sua cor preferida.
Olha só outra arte dele - está entalhando as prateleiras com motivos de inspiração viking.
Aos amados familiares, minha homenagem e carinho, todos são muito especiais e habilidosos. Ao escrever esse texto, como não lembrar dos artesanatos da tia Diva, da criatividade da Sonia, dos quadros da tia Nô e da tia Rita, do gosto pelas artes que todos demonstram e do talento musical de tantos de nós!!! Não citei todos mas, ao pensar em cada um, penso como Deus nos abençoou com dons e talentos!!!
Beijos e tchau!!!